Como jornalista, sempre acreditei no potencial do jornalismo como instrumento para promover e proteger os direitos cívicos.
Por Taís Seibt
Depois de uma década na profissão, a maior parte em redação de jornal, decidi me dedicar à pesquisa acadêmica e escrevi uma tese de doutorado sobre a prática de fact-checking no Brasil. Foi entre 2015 e 2019, um período em que ainda pouco se conhecia sobre a checagem de fatos, e sua relevância no meio jornalístico era até mesmo questionada - afinal, checar os fatos não é o que fazem ou deveriam fazer os jornalistas?
Quando já estava na reta final da pesquisa, o assassinato de Marielle Franco e toda a corrente de ódio e destruição de sua imagem pública que se seguiram, a greve dos caminhoneiros e a desinformação que corria solta pelo whatsapp, e enfim, as eleições de 2018, colocaram o fact-checking em outro patamar. E foi a partir daí que eu comecei a me interessar pela conversa sobre inovação cívica.
“O jornalismo que realmente faz diferença na vida das pessoas é o que está junto com elas, lado a lado na busca de informações necessárias para que elas possam exercer a cidadania de forma efetiva. Uma das ferramentas para inovar nesse processo é a transparência pública e, portanto, dados abertos”.
Esse foi o caminho que escolhi seguir após terminar o doutorado, indo além da checagem de fatos, ampliando a visão sobre o acesso e o uso de dados públicos no jornalismo e na sociedade de modo geral.
Foi assim que nasceu, em 2019, a Afonte Jornalismo de Dados, uma iniciativa que busca promover o conhecimento com e sobre dados em comunicação digital, verificação de conteúdos e letramento midiático. Ao longo dos anos, vários colaboradores se uniram à Afonte com o propósito de disseminar o debate sobre dados e desinformação em eventos, cursos, palestras, guias e artigos produzidos com apoio de diversas instituições. O projeto de mais destaque é o guia Postar ou Não.
Além de iniciativas próprias, Afonte permitiu também estabelecer uma parceria muito frutífera com a Open Knowledge Brasil e a Escola de Dados para trazer para Porto Alegre eventos sobre dados abertos, como o Open Data Day e o Cerveja com Dados, ambos com quatro edições já realizadas de 2019 para cá.
“Ingressar na rede de Embaixadoras de Inovação Cívica acabou sendo um caminho natural. Faço parte do grupo desde a primeira leva, ora mais atuante nos encontros, ora menos, mas sempre no apoio à organização de eventos locais com o propósito de disseminar conhecimento sobre dados abertos e apoiando outros embaixadores com informações e referências a partir da nossa experiência por aqui.”
Das diversas conexões que a rede me proporcionou, foi por meio dela que, em 2020, pude atuar como uma das pesquisadoras de apoio ao Índice de Transparência da Covid-19, que foi um monitoramento dos mais importantes para qualificar os dados públicos disponíveis sobre a pandemia. No ano seguinte, ainda participei da produção do e-book que documenta os impactos deste projeto de sucesso em inovação cívica da OKBR. Essa foi uma das experiências que mais me transformou e me trouxe aprendizado nesse período em que faço parte da rede, e que torna este espaço muito especial.
Contudo, mais especial do que os projetos e as experiências, são as pessoas que fazem a rede acontecer. Pessoas abertas ao aprendizado mútuo e contínuo, dispostas a colaborar entre si para chegar ao sucesso conjunto são o ingrediente principal desta comunidade. Muitas parcerias e amizades se construíram ou se fortaleceram nesta rede ao longo desses anos. É esse espírito de colaboração e troca de conhecimento que dá significado à nossa participação. Vida longa às Embaixadoras!
Esse texto faz parte da série Guia de Atuação, que consiste em uma série de postagens com depoimentos de pessoas da rede, compartilhando experiências e formas de atuação dentro do cenário de inovação cívica brasileiro. O objetivo é compartilhar conhecimentos, em especial com as novas embaixadoras, bem como reforçar a importância da atuação em comunidade.
